As incursões nefastas de um javali

 

As incursões nefastas de um javali

   Não é normal que um javali, cujo habitat são os bosques de abundante vegetação, se aventure a entrar dentro de aglomerados populacionais, mas o meu quintal, em plena vila, tem sido escolhido pelo bicho para as suas incursões noturnas, tendo provocado avultados estragos nas culturas ali existentes.

   Vem pela calada da noite, trepa um muro de pedra com mais de um metro de altura, atravessa um quintal inculto de um vizinho e invade todo espaço cultivado da minha horta. Chegado aí, procura os melhores acepipes da sua dieta, vira todos os vasos que encontra pelo caminho à procura de minhocas e de outros pequenos animais que se escondem por baixo, depois de remexer o interior dos vasos para devorar bolbos e tubérculos. Assim, já cometeu a bonita proeza de comer toda a plantação de alho francês e todos os pseudotubérculos de orquídeas silvestres contidos numa trintena de vasos. Entretanto, na sua desvairada procura de alimento vai espezinhando os legumes que não lhe interessam e arrancando plantas viçosas, à cata sabe-se lá do quê, como foi o caso de pimentos, pepinos, tomateiros, abóboras, grão-de-bico, alface e cebolas. Curiosamente não comeu as cebolas, ao contrário do alho francês, limitando-se a virá-las de raiz para cima Também não escapou à fúria do animal um pequeno terreno relvado, onde provocou profundos regos, provavelmente à procura de vermes escondidos no estrume que serviu de substrato ao relvado. O apurado olfato do bicho permite-lhe detetar a minúscula bicharada do subsolo. Um outro atributo do animal é a sua desconfiança em relação a estruturas que não lhe são familiares, como foi o caso de uma estufa com armação de ferro, onde se encontram alguns recipientes com bolbos e tubérculos enterrados. Apesar de se encontrar de portas escancaradas, o javardo não se atreveu a entrar no interior da estufa.

   Para evitar tais incursões, a solução será a construção de uma vedação apropriada. Entretanto, tenho recorrido a receitas caseiras, que me têm aconselhado e que têm surtido algum efeito. Conhecendo bem o percurso da besta, coloquei no seu caminho alguns panos e peças de roupa velha, que tenho o cuidado de borrifar com água de colónia e outros perfumes, ao cair da noite. Aparentemente o animal não gosta de odores humanos, nem daquilo que lhe possa sugerir a presença do homem, e dá meia volta. E assim me tenho livrado do intruso.

   Tenho estado a falar de um javali, mas pelos volumosos estragos,  sou levado a crer que se trata de uma numerosa família de suídeos, que passa o dia nos seus esconderijos secretos, algures fora da vila, e à noite se vem banquetear no meu quintal.    

Comentários

  1. Lamento o rasto de destruição que o javali e família tem deixado no quintal. E, imagino como te deve custar tais estragos, depois de tanta dedicação e trabalho a cultivá-lo. Mas, sinceramente, a forma como descreves a incursão e os banquetes deste visitante acabou por tornar o texto com muita graça!!! Que grande atrevimento o deste animal! Ouvi dizer que espalhar meias usadas e bolas de naftalina também ajudam a afugentar os javalis e na net vi que há quem sugira outro truque que é o de colocar no terreno pequenas "velas elétricas” (daquelas com pilha, que duram meses, julgo que há nas lojas chinesas). Mas talvez o melhor seja mesmo uma vedação mais robusta... Beijinhos!

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