Passeio da Academia Sénior de Oleiros

 

   De forma imprevista, a Direção da Academia Sénior de Oleiros, decidiu organizar, no dia 20 de dezembro de 2023, um passeio cultural contemplando todos os inscritos na Academia. A decisão foi inesperada porque não correspondia a nenhum dos objetivos que habitualmente norteiam estas iniciativas: encerramento das atividades académicas no final do ano letivo, ou forma de complementar matéria lecionada em determinada disciplina. Por outro lado, a decisão foi tomada e anunciada num curto espaço de tempo, pelo que muitos alunos não puderam participar no evento, por terem já programado as suas vidas pessoais noutro sentido, com a agravante de o passeio se realizar na semana anterior ao Natal, altura em que algumas famílias têm a vida mais ocupada ou se deslocam para outros lugares para festejar a época natalícia.

   O passeio destinava-se a visitar o Museu do Trabalho Michel Giacometti, em Setúbal, e o Museu da Música Mecânica, em Pinhal Novo, tendo sido anunciado através de telefonemas feitos para todos os inscritos na Academia, na impossibilidade de o fazer, em tempo útil, através de informação oral durante as aulas, como tem sido habitual.

   A concentração dos participantes teve lugar às 7 da manhã, junto do edifício da Câmara Municipal, para distribuição das pessoas por dois autocarros, um do Município e outro da empresa de camionagem Abel & José Augusto, Ldª, que habitualmente presta serviços ao Município de Oleiros, quando este não dispõe de viaturas suficientes. Este segundo autocarro chegou a Oleiros, vindo do Orvalho, já com metade da lotação preenchida, isto é, com os alunos da Academia Sénior de Oleiros residentes na zona do Orvalho. Os restantes lugares foram preenchidos com alunos residentes em Oleiros e noutros lugares.

   Para além dos alunos, a quem se destinava o passeio, estavam também presentes as coordenadoras da Academia (Telma Veríssimo, Joana Martins e Helena Pedro), o vice-presidente da Câmara, (Paulo Urbano), um funcionário da Câmara (Filipe Mendes) e a professora de música Catarina Lopes. Todas estas pessoas viajaram na companhia dos alunos com funções específicas.

   Apesar da boa vontade da dedicada e simpática tríade responsável pelas atividades da Academia, a entrada nos autocarros decorreu um tanto desordenada, o que é já era de esperar por não ter havido uma prévia atribuição de lugares. Em tais circunstâncias é inevitável um certo “engarrafamento” de pessoas, que se acotovelam junto das entradas do autocarro, com o intuito de conseguir um bom lugar no interior da viatura. É sempre um espetáculo deprimente, mas felizmente, neste caso, o quadro negativo ficou um tanto atenuado pela cordialidade que é apanágio da maioria dos alunos de uma Universidade Sénior. Convenhamos que não era preciso tanta ganância na procura de um lugar, visto que estes autocarros são bastante confortáveis em todo o seu espaço interior.  

   O percurso decorreu de uma forma serena, fazendo-se uma única paragem na Área de Serviço de Aveiras para as necessidades fisiológicas habituais e uma refeição ligeira a expensas de cada um.

   Viajou-se um pouco no “escuro” porque não foram dadas quaisquer informações sobre o itinerário, nem detalhes sobre a programação. Apenas se sabia que iríamos visitar dois museus e tínhamos um almoço garantido, algures em Setúbal, o que é pouco para quem faz uma viagem com objetivos culturais.

   Chegados à cidade de Setúbal, houve alguma dificuldade na procura de lugar para estacionar as enormes viaturas na proximidade do museu, mas, graças a uma eficaz coordenação de serviços entre a Lena (Helena Pedro) e uma funcionária do Museu do Trabalho, via telemóvel, todos os problemas foram ultrapassados de forma rápida.

   Como se tratava de um grupo numeroso de visitantes, optou-se por organizar dois subgrupos, que fizeram a visita em simultâneo, mas em sentidos inversos, acompanhados por duas guias diferentes. A guia do meu subgrupo – a Leonor – desempenhou a sua tarefa com elevada competência profissional, revelando um profundo conhecimento do passado da antiga fábrica de conservas de peixe em que está instalado o museu. A sua empatia com o grupo de visitantes proporcionou bons momentos de agradável sintonia durante toda a visita e permitiu cativar a atenção dos presentes para os variados objetos expostos, através de explicações muito bem fundamentadas.

   Seguiu-se um almoço num restaurante local, perto do estuário do Sado, oferecido pelo Município de Oleiros. O serviço foi eficiente e simpático. Já a ementa não primou pela qualidade. Se alguém estava à espera de um suculento prato de peixe ou de marisco, menu típico da cidade de Setúbal, enganou-se redondamente! O que é certo é que a ida ao restaurante não se enquadrava numa qualquer digressão turística, mas destinava-se, isso sim, a saciar a fome a quem já não deglutia nada desde as primeiras horas da manhã. Ainda assim, uma salada nutritiva a acompanhar a estorricada febra de porco grelhada não seria nada descabida e ajudaria a manter a forma física daqueles longevos. Saliente-se também um pequeno equívoco: foi apregoada a ideia de que o pessoal iria almoçar num restaurante com uma vista privilegiada sobre o Sado. Na realidade, a cor do rio mal se distinguia lá ao fundo, através de umas janelas cuja função era apenas a de iluminar a sala.

   Reunido o pessoal novamente junto dos autocarros, rumámos em direção à vila de Pinhal Novo, para visitar o Museu da Música Mecânica, onde se guarda uma coleção privada de caixas de música, gramofones e objetos afins, num total de 600 peças, que, em movimento, potenciam um sentimento de surpresa e magia. Também aqui foi necessário organizar dois grupos, mas, ao contrário do museu anterior, um grupo teve de esperar que o outro concluísse a visita, visto que a guia era uma só, e o grupo era numeroso. Assim, enquanto o primeiro grupo visitava o núcleo central onde se expunham as peças principais, o outro foi deixado um pouco entregue a si próprio. Soube-se depois que este grupo poderia ter ocupado o tempo numa visita à quinta em que se insere o espaço museológico, podendo nomeadamente visitar as instalações de uma escola de equitação. Mas só no final, alguém se lembrou que também havia esta possibilidade de ocupar o tempo de forma recreativa. 

   A coleção contida no museu é privada, como se disse, e apresenta peças únicas de grande interesse histórico e científico, que o seu proprietário, Luís Cangueiro, foi reunindo ao longo da sua vida, geralmente em países da Europa Central. Foi a filha deste senhor, Ana Isabel Cangueiro, que ciceroneou a visita, revelando um grande conhecimento daquelas peças, e mostrando um comovente entusiasmo e orgulho pelo trabalho desenvolvido pelo seu pai, como colecionador. Algumas das caixas de música ali expostas foram postas a funcionar, como forma exemplificativa e complementar da visita, para gáudio e espanto dos visitantes.

   No final da visita, apareceu na receção do museu o seu proprietário, que autografou alguns livros adquiridos pelos visitantes. A par dos livros ali expostos para venda, também era possível comprar outros objetos relacionados com a música mecânica.

   Ao cair da noite, depois de uma fotografia de conjunto em frente do edifício do museu, todos os participantes retomaram os seus lugares nos autocarros e regressaram a Oleiros, seguindo o mesmo itinerário da manhã, passando novamente pela ponte Vasco da Gama, o que permitiu espraiar a vista pelo vasto estuário do Tejo, espetáculo sempre fascinante, especialmente para quem vive todos os dias confinado entre os montes das serras de Alvelos e Moradal. Não é negar beleza às suas paisagens, mas é sempre saudável a mudança de horizontes.

   No interior do autocarro em que eu seguia, reinava grande pacatez, explicada, talvez, pela idade dos viajantes e pelo cansaço da jornada. Entretanto alguém sugeriu que a professora Catarina animasse o ambiente com a sua guitarra. A reação não se fez esperar e logo foram propostas pela maestrina canções do reportório do grupo coral da Academia Sénior. Estranhamente, uma boa parte dos coralistas presentes no interior do autocarro não emitiu um único som coral, ao contrário da Lena e da Joana, as quais, não fazendo parte do coro, procuraram acompanhar as melodias que iam surgindo por iniciativa da maestrina Catarina, que dedilhava a guitarra e cantava ao mesmo tempo. O alheamento dos coralistas é inexplicável, já que os ensaios de canto coral não se destinam apenas a passar o tempo, mas a aprender música e a pô-la em prática, nomeadamente em festas e convívios sociais, como era o caso deste passeio. De facto, foi confrangedor ver aqueles coralistas mudos e quedos, numa altura em que podiam e deviam fazer uso das suas cordas vocais, deleitando-se a si próprios e aos outros com a canoridade das suas vozes.

Enfim, “não há melhor”, como diria uma conhecida figura popular oleirense.

Comentários

  1. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  2. Atão o que é que o pessoal coralista anda a fazer na Academia?!

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  3. Excelente texto Alcino! Parabéns! Adorei ler. Quase me senti lá com vocês.

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